Festival Caminhos, em Coimbra, acolhe a estreia nacional do documentário “Até que o porno nos separe”.

O festival Caminhos, em Coimbra, acolhe a estreia nacional do documentário de Jorge Pelicano “Até que o porno nos separe”, que acompanha a transformação de uma mãe depois de descobrir que o filho é ator pornográfico ‘gay’.

Neste filme, que se estreia no dia 30, no Teatro Académico de Gil Vicente, Jorge Pelicano acompanha a jornada emocional de Eulália, católica e conservadora, a morar nos arredores do Porto, que inicia um processo de aproximação ao filho, depois de ter descoberto que ele, emigrado na Alemanha, é o primeiro ator ‘porno gay’ português, premiado no estrangeiro.

A ideia do documentário surgiu há alguns anos, com o documentarista a querer abordar a forma como os pais lidam com as escolhas dos filhos, ao mesmo tempo que queria explorar o mundo da pornografia, numa abordagem que não tivesse como centro os atores e atrizes ou os bastidores deste setor, contou à agência Lusa o realizador.

Porno gay

Surgiu a possibilidade de filmar Eulália, na altura com 65 anos, e o filho, Sydney Fernandes, em 2016, num momento em que “as coisas ainda não estavam resolvidas entre mãe e filho”, refere, sublinhando que gosta “de histórias e personagens ainda em processo de transformação”.

Com rodagens entre o verão de 2016 e 2017, Jorge Pelicano aborda as mensagens trocadas entre mãe e filho desde 2013, na rede social Facebook, quando Eulália descobre a orientação sexual e a profissão do filho e onde fica espelhada a revolta e o seu desgosto.

No entanto, aquilo que poderia ser uma história marcada pelo conflito e pela não aceitação, acaba por se tornar numa viagem de transformação da mãe, que, como a própria Eulália diz no documentário, precisava de “sair do armário” e moldar-se para aceitar as escolhas do filho.

“Era uma mulher muito conservadora, muito religiosa, que preza muito o bem estar familiar e tem de se moldar, tem de se transformar completamente para sair do seu conservadorismo e abraçar uma mente mais liberal, para aceitar as escolhas do filho”, disse à Lusa Jorge Pelicano.

Num documentário em que o pai quase não aparece – “os homens têm mais dificuldade em aceitar” -, o realizador entende que o filme foi também “uma espécie de libertação” para Eulália.

“Durante o processo de filmagem, [Eulália] teve a oportunidade de conhecer outras pessoas que também estavam na mesma situação, que os filhos também tinham tido escolhas que eram contra os princípios dos próprios pais. Ao conhecer essas pessoas, ela não se sentiu isolada no mundo, e partilhar a sua história – seja com outras pessoas ou para o documento – foi uma libertação para ela e acabou por a fortalecer”, vincou.

Para Jorge Pelicano, conhecendo-se Eulália, percebe-se que “era uma mulher que precisava de algo – de uma janela que se abrisse no seu próprio mundo”.

O filme tem estreia nacional no âmbito do festival Caminhos do Cinema, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, a 30 de novembro, às 21:45.

De acordo com o realizador, o filme deverá estar nos cinemas, em Portugal, no primeiro trimestre de 2019, esperando também participar em vários festivais de cinema internacionais, nomeadamente focados na temática LGBT.

Fonte: Sapo


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