André Americano poderia ser um nome artístico, mas não é. O seu nome artístico é, na verdade, Lilly Prozac, a personagem que encarna enquanto drag queen. Natural de Matosinhos, André tem 26 anos, é “sociável”, tem “amigos, apoio familiar”, “um quotidiano regular”, semelhante ao de qualquer jovem da sua idade. E de ninguém esconde que é transformista. “Tem a particularidade de ter uma excelente convivência com a sua avó, de 79 anos, a sua maior fã e apoiante”, explicou ao P3 José Vieira, o autor da série fotográfica A Pele Que Habito. O fotógrafo de Vila Real percebeu que “a história de André destoava imenso daquilo que já tinha lido e pesquisado sobre o panorama drag”. Todos os familiares de André conhecem a Lilly Prozac, certifica. “Ele nunca sofreu qualquer preconceito relativamente a nada, e foge totalmente ao estigma da ‘vida difícil’ de uma drag no panorama português.”
Americano encarna Lilly todas as sextas-feiras à noite. Já passaram dois anos desde a primeira performance. “Tudo começa com a maquilhagem, um processo que pode durar uma a quatro horas e envolver dezenas de pessoas e produtos diferentes”, explicou o fotógrafo. Lilly obtém um “corpo feminino invejável” ao colocar próteses de silicone que simulam fartos peitos e ancas. Trajada a rigor, “com saltos altos de fazer inveja”, Lilly passa cinco horas em performance. “Passa por momentos desgastantes, dolorosos para qualquer corpo masculino”, descreve o fotógrafo, “mas, enquanto está debaixo dos holofotes, faz o público delirar”. Fora de palco, Americano é designer de moda numa empresa local. “Licenciou-se em marketing, em Edimburgo, e é um autodidacta do design, da confecção de moda, da maquilhagem e do penteado. É um criativo por natureza, um sonhador.” O seu maior desafio enquanto drag queen não é superar a discriminação, mas sim “ultrapassar, em qualidade, a sua produção anterior”, “destacar-se dos seus pares e primar sempre pelo glamour, à semelhança das grandes divas antigas, que tanto admira”.
José Vieira decidiu dar início a esta série em Fevereiro de 2018, no âmbito do curso no Instituto Português de Fotografia. “Com este trabalho quero combater os estereótipos associados a esta subcultura”, explica. O fotógrafo gostaria de, no futuro, poder dedicar-se inteiramente à fotografia documental. “É neste registo que me sinto bem”, assegura. “Através deste meio, tenho a possibilidade de contar uma história e de transmitir uma mensagem. É também um veículo que me permite absorver novas realidades.”
Fonte: Público
0 Comments